Medida Provisória
Lázaro Ramos estreia na direção com a adaptação do espetáculo teatral Namíbia, não! do dramaturgo Aldri Anunciação.
No filme, em um Brasil anos à frente do atual (pelo menos a frente cronologicamente) vemos uma realidade distópica, onde uma Medida Provisória é criada para enviar pessoas pretas de volta ao continente de origem, a África, e a tal medida diz inicialmente estar proporcionando a essas pessoas um retorno as suas raízes, como reparação histórica, mas o que começa com um programa de “incentivo” acaba por virar um grande expurgo de brasileiros pretos que são cassados para serem enviados a países africanos. Em meio a isso alguns remanescentes lutam pelo direito de permanecer, entre eles o advogado Antônio, interpretado por Alfred Enoch e seu primo o jornalista/YouTuber André, com o ótimo Seu Jorge no papel. Temos ainda Taís Araújo na pele da médica Capitu, que se junta a uma versão moderna dos antigos quilombos na luta e resistência contra o governo opressor, além de Adriana Esteves que faz Isabel, uma agente do governo que é encarregada de executar a famigerada medida provisória.
O rapper Emicida também dá as caras em meio a outros conhecidos atores como Mariana Xavier e a experiente Renata Sorrah.
A direção de Lázaro Ramos mostra que o estreante seguiu, em grande parte, a cartilha, usa bem os closes entre o casal Antônio e Capitu pra nos mostrar a cumplicidade que eles tem, usa planos e enquadramentos que nos posicionam bem nos acontecimentos ou ainda enfatizam sentimentos como indignação, deboche, medo, e acerta ainda nas trilhas sonoras que traz também Rincon Sapiência.
Medida Provisória traz a tela uma situação que beira ao absurdo, mas que funciona muito bem como pano de fundo para enfatizar uma luta de mais de 500 anos, uma luta por respeito e igualdade do povo preto ✊🏿, é uma bela alegoria e me deixou ansioso pelo próximo projeto de Lázaro Ramos como diretor.
O filme estreia hoje nos cinemas e vale muito a pena assistir😉